quinta-feira, 28 de julho de 2011

A Luz é de Todos

Este post foi retirado, com autorização do seu autor - Éter - do blogue

Céu Encarnado.



Serafim Almeida está a pouco mais de um mês de completar 90 anos. Benfiquista ferrenho, natural e residente no Porto, nunca tinha vindo à Luz. "Não queria morrer sem ver esta maravilha de estádio", disse ontem a O JOGO, enquanto observava a estátua de Eusébio.

Ao ler isto não posso deixar de pensar em todos os senhores Serafins Almeidas espalhados por aí mas que, ao contrário deste senhor Serafim Almeida, vão mesmo morrer sem nunca terem ido ao estádio da Luz. E interrogo-me se não seria possível proporcionar tamanha alegria a pessoas que, pelos mais diversos motivos, não têm possibilidade de vir a Lisboa ver um jogo do Benfica.

Se o Benfica, devido aos contratos de patrocínio, dispensa todos os jogos centenas de bilhetes para algumas grandes empresas, que invariavelmente vão parar ao bolso de administradores com salários de milhares de euros que vão para a Luz com ar de enfado e escandalizados por não haver caviar e por terem que se misturar com o povo, por que não fazer um esforço para dar uma alegria a quem pouco tem?

Será assim tão difícil? Não é. Por exemplo, o Benfica podia criar um programa em que as pessoas se inscreviam para irem ao estádio pelo menos uma vez na vida, sem pagar. O programa seria dirigido pela Fundação Benfica (que tem estado muito bem na ajuda aos mais necessitados sem olhar a clubismos, mas que bem podia concentrar-se um pouco mais nos benfiquistas) em articulação com as várias Casas do Benfica espalhadas pelo país, que têm um conhecimento mais profundo sobre as realidades dos sócios e adeptos locais. Recebidas as inscrições, elaborava-se a lista por ordem de idade e dava-se prioridade aos mais velhos (por motivos óbvios). Depois as pessoas eram contactadas e o Benfica pagava-lhes a deslocação e o bilhete. O ideal seria juntar, à vez, muitas pessoas da mesma zona e alugar uma ou mais camionetas, com partida da Casa do Benfica mais próxima. Uma semana seria de uma Casa no Algarve, a seguir de uma Casa no Minho, etc, etc, etc, até abarcar o país todo, incluindo Madeira e Açores (neste caso tinha que ser de avião, como é evidente). Quem fosse contemplado não poderia voltar a candidatar-se ao programa e registava-se o nome e número de B.I. porque infelizmente há muitos chicos espertos neste país. Apelava-se também ao bom senso das pessoas para que aqueles que já tivessem ido ver um jogo à Luz não se candidatassem, tal como quem tivesse posses para tal, mas que por um motivo ou outro ainda não tivesse ido à Luz.

Para o Benfica não arcar com todos os encargos, seria importante arranjar um ou mais patrocinadores que se quisessem associar ao programa e decerto não faltariam interessados porque as grandes empresas têm lucros de milhões e milhões de euros mas depois gostam sempre de dar um ar de bom samaritano, do género "eu ganho milhões e pago miseravelmente aos meus empregados mas hoje dei uma sandes a um pobre e por isso sou um grande homem".
Outro meio de financiamento passaria por criar uma quota facultativa extra para sócios (semelhante à quota das modalidades) nem que fosse só de cinquenta cêntimos ou um euro, e esse dinheiro ia todo para o programa.

A quota podia chamar-se, por exemplo, "A Luz é de Todos". Eu pagava essa quota extra, de caras. Porque o Benfica é de todos. Até dos mais pobres.


P.S. Provavelmente será uma ideia utópica, mas de vez em quando sabe bem debruçar-me sobre o que significa verdadeiramente o Benfica e deixar um pouco de lado questões superficiais como "o Gaitán está demasiado encostado à linha" ou "o Javi está muito sozinho no meio".


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