Este post foi retirado, com autorização do seu autor - Éter - do blogue
 Céu Encarnado.
Serafim Almeida está a pouco mais  de  um mês de completar 90 anos. Benfiquista ferrenho, natural e  residente  no Porto, nunca tinha vindo à Luz. "Não queria morrer sem ver  esta  maravilha de estádio", disse ontem a O JOGO, enquanto observava a   estátua de Eusébio.
Ao ler isto não posso deixar de  pensar  em todos os senhores Serafins Almeidas espalhados por aí mas  que, ao  contrário deste senhor Serafim Almeida, vão mesmo morrer sem  nunca terem  ido ao estádio da Luz. E interrogo-me se não seria possível   proporcionar tamanha alegria a pessoas que, pelos mais diversos  motivos,  não têm possibilidade de vir a Lisboa ver um jogo do Benfica.
Se   o Benfica, devido aos contratos de patrocínio, dispensa todos os jogos   centenas de bilhetes para algumas grandes empresas, que  invariavelmente  vão parar ao bolso de administradores com salários de  milhares de euros  que vão para a Luz com ar de enfado e escandalizados  por não haver  caviar e por terem que se misturar com o povo, por que  não fazer um  esforço para dar uma alegria a quem pouco tem?
Será  assim tão  difícil? Não é. Por exemplo, o Benfica podia criar um  programa em que as  pessoas se inscreviam para irem ao estádio pelo  menos uma vez na vida,  sem pagar. O programa seria dirigido pela  Fundação Benfica (que tem  estado muito bem na ajuda aos mais  necessitados sem olhar a clubismos,  mas que bem podia concentrar-se um  pouco mais nos benfiquistas) em  articulação com as várias Casas do  Benfica espalhadas pelo país, que têm  um conhecimento mais profundo  sobre as realidades dos sócios e adeptos  locais. Recebidas as  inscrições, elaborava-se a lista por ordem de idade  e dava-se  prioridade aos mais velhos (por motivos óbvios). Depois as  pessoas eram  contactadas e o Benfica pagava-lhes a deslocação e o  bilhete. O ideal  seria juntar, à vez, muitas pessoas da mesma zona e  alugar uma ou mais  camionetas, com partida da Casa do Benfica mais  próxima. Uma semana  seria de uma Casa no Algarve, a seguir de uma Casa  no Minho, etc, etc,  etc, até abarcar o país todo, incluindo Madeira e  Açores (neste caso  tinha que ser de avião, como é evidente). Quem fosse  contemplado não  poderia voltar a candidatar-se ao programa e  registava-se o nome e  número de B.I. porque infelizmente há muitos  chicos espertos neste  país. Apelava-se também ao bom senso das pessoas  para que aqueles que  já tivessem ido ver um jogo à Luz não se  candidatassem, tal como quem  tivesse posses para tal, mas que por um  motivo ou outro ainda não  tivesse ido à Luz.
Para o Benfica não  arcar com todos os  encargos, seria importante arranjar um ou mais  patrocinadores que se  quisessem associar ao programa e decerto não  faltariam interessados  porque as grandes empresas têm lucros de milhões e  milhões de euros mas  depois gostam sempre de dar um ar de bom  samaritano, do género "eu  ganho milhões e pago miseravelmente aos meus  empregados mas hoje dei  uma sandes a um pobre e por isso sou um grande  homem".
Outro meio de  financiamento passaria por criar uma quota  facultativa extra para  sócios (semelhante à quota das modalidades) nem  que fosse só de  cinquenta cêntimos ou um euro, e esse dinheiro ia todo  para o programa.
A  quota podia chamar-se, por exemplo, "A Luz é  de Todos". Eu pagava essa  quota extra, de caras. Porque o Benfica é de  todos. Até dos mais  pobres.
P.S.  Provavelmente será uma  ideia utópica, mas de vez em quando sabe bem  debruçar-me sobre o que  significa verdadeiramente o Benfica e deixar um  pouco de lado questões  superficiais como "o Gaitán está demasiado  encostado à linha" ou "o Javi  está muito sozinho no meio".